ENTRE A PRUDÊNCIA E O DESPAUTÉRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DO DISCURSO CONSERVADOR BRASILEIRO E SEUS ATRAVESSAMENTOS POLÍTICOS

Patrick Luiz Martins Freitas Silva

Resumo


Chamo de estrutura tridimencional do conservadorismo a conjugação de três elementos gramaticais fundamentais do seu discurso político: identidade exclusiva, (des) ordem pública e imperativo moralizante. A identidade exclusiva contempla o discurso polarizante do “nós” e do “outro”, reúne elementos simbólicos de matriz religiosa e tendência unificadora, espelhada especialmente no mascaramento do passado; a (des) ordem pública é a retórica argumentativa de atribuição dos problemas sociais visíveis (crise econômica e violência) à situação de um período, dispensando explicações mais complexas, e alimentando-se da promessa de recuperação da paz ilustrada pela via institucional; por sua vez, o imperativo moralizante é constituído da crença de que há classificações aceitáveis de enquadramento intencional humano, e que é possível constituir um governo que se livre da concupiscência pela via da escolha dos melhores. Tenho por objetivo neste trabalho, com base nos apontamentos históricos, identificar esses três marcos gerais do discurso conservador brasileiro, apontando como esses argumentos (retóricos) aparecem nos caminhos estratégicos da tomada do poder político. Demonstro sobretudo como “o prenúncio de novas eras e a ascenção de grupos sociais de interesses provocam no espírito conservador os distúrbios e receios quanto à segurança de seu poder, dando margem a reações teóricas” (Mercadante, 1980).



Referências


AMARAL, Azevedo. O Estado Autoritário e a Realidade Nacional. Versão para eBook eBooksBrasil.com. 2002.

CAMARGO, Aspásia. A questão agrária: crise de poderes e reformas de base ((1930-1964), in: FAUSTO, Boris(org.) Historia Geral da Civilização brasileira: O Brasil republicano. Tomo 3. São paulo. Difel. 1981

CALLADO, Antonio. Tempo de Arraes: Padres e Comunistas na Revolução sem Violência. 3. ed. Rio de Janeiro: José Alvaro, editor. 1964.

CITTADINO, Gisele. Pluralismo, direito e justiça distributiva: elementos de filosofia constitucional contemporânea, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013

CORDATO, Adriano Nervo. OLIVEIRA, Marcus Roberto. A marcha, o terço e o livro: catolicismo conservador e ação política na conjuntura do golpe de 1964. Rev. Bras. Hist. vol. 24 no. 47 São Paulo 2004.

COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras: explicadas a revolucionários e reacionários. 1. ed. São Paulo: Três Estrelas. 2014.

ESCORSIM NETTO, Leila. O conservadorismo clássico: elementos de caracterização e crítica. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

FERREIRA, Gabriela Nunes; BOTELHO, André. Revendo o pensamento conservador. In: FERREIRA, Gabriela Nunes; BOTELHO, André (Orgs.). Revisão do pensamento conservador: ideias e política no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2010.

FICO, Carlos. O Golpe de 1964: momentos decisivos, Rio de Janeiro: FGV, 2014.

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

GEARY, D. A “Virada lingüística”, pós-modernismo e história do trabalho. Perspectiva. Florianópolis: NUP/CED/UFSC, v. 18, n. 33, jan./jul. 2000.

KIRK. Russel. A política da prudência. Tradução Gustavo Santos, Márcia Xavier de Brito. São Paulo: Realizações, 2014.

LESSA, Renato. “Modos de Fazer uma República: demiurgia e invenção institucional na tradição republicana brasileira”, em Análise Social, XXVII (3o ), 2012, p. 508-531.

LEITE, Renato Lopes. Republicanos e Libertários: pensadores radicais no Rio de Janeiro (1822). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

MANNHEIM, Karl. “O significado do conservantismo”. In M. Forachi (org.), Mannheim, Col. Grandes Cientistas Sociais, São Paulo, Editora Ática, pp. 107-136. 1982.

MERCADANTE, Paulo. A Consciência conservadora no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1980.

NUNES, Edson de Oliveira. A Gramática Política do Brasil, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

PILATTI, Adriano. “Constituintes, Golpes e Constituições– os caminhos e des caminhos da formação constitucional do Brasil desde o período colonial”, em Marcos Emilio Gomes (org.), A Constituição de 1988, 25 anos: a construção da democracia e liberda de de expressão: o Brasil antes e depois da Constituinte, São Paulo: Instituto Vladimir Herzog, 2013, p. 26-133.

OAKESHOTT, Michael. Ser conservador. Tradução Rafael Borges. Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha, 2014. Disponível em: http://portalconservador.com/livros/MichaelOakeshott-Ser-Conservador.pdf/html.

Acesso em: 10 de janeiro de 2019.

SCRUTON, Róger. Argumentos para o conservadorismo. 1. ed. São Paulo: É Realizações. 2017.

SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. 1. ed. Trad. Bruno Garschagen. Rio de Janeiro: Record, 2015.


Texto completo: PDF

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 .